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Alimentação Pesa Cada Vez Mais no Orçamento: Famílias de Baixa Renda Destinam 22% da Renda à Comida

  • Foto do escritor: Marcelo Damasceno
    Marcelo Damasceno
  • 24 de fev.
  • 3 min de leitura

O custo da alimentação tem se tornado um desafio crescente para os brasileiros, especialmente para as famílias de baixa renda. A alta nos preços dos alimentos não é um fenômeno recente, mas tem sido intensificada por fatores como eventos climáticos extremos, pandemia, guerra na Ucrânia e variação cambial. Como consequência, a participação dos gastos com alimentação no orçamento familiar aumentou significativamente, tornando qualquer novo reajuste ainda mais impactante, principalmente para os mais vulneráveis.


Um estudo conduzido pelo economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), revela que famílias com renda entre um e 1,5 salário mínimo destinam atualmente 22,61% de seus ganhos à alimentação. Em 2018, essa proporção era de 18,44%, demonstrando um crescimento expressivo, mesmo com a retomada da política de valorização do salário mínimo, que hoje está fixado em R$ 1.518.


Desde o início de 2020, pouco antes da pandemia, o custo da alimentação no domicílio acumula uma alta de 55,87%, bem acima da inflação geral, que foi de 33,46% no mesmo período, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE. Embora 2023 tenha apresentado uma leve estabilidade nos preços, com queda de 0,52% no peso da alimentação no orçamento, a trajetória de alta dos últimos anos ainda reflete no bolso do consumidor.


Impacto nos Hábitos de Consumo


A alimentação é uma necessidade básica, e mesmo diante da alta dos preços, as famílias não podem simplesmente cortar esse gasto. No entanto, estratégias de substituição e adaptação se tornaram comuns. O vigilante Edson Falcão Júnior, de 44 anos, exemplifica essa realidade: para enfrentar os aumentos nos supermercados, ele passou a priorizar marcas mais acessíveis e realizar pesquisas de preços antes das compras. Além disso, precisou ajustar despesas secundárias, como o plano de saúde da família.




"Se não pesquisarmos, não conseguimos comprar tudo o que precisamos. A carne, por exemplo, está muito cara. Quando não encontramos em promoção, optamos por cortes mais baratos", relata.


O peso da alimentação no orçamento já supera os gastos com habitação – que incluem aluguel, luz e gás – e também ultrapassou os custos com transporte. Entre famílias com renda de até R$ 2.202,02, o comprometimento com alimentação chega a 29%.


Inflação dos Alimentos e Perspectivas para 2025


Especialistas projetam que, em 2025, o aumento dos preços dos alimentos fique abaixo da inflação geral. O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, prevê que o IPCA encerre o ano em 5,03%, enquanto a inflação dos alimentos fique em 3,91%. Apesar dessa desaceleração, os consumidores continuam sentindo os efeitos dos aumentos acumulados ao longo dos últimos anos.


"A alimentação tem subido acima da inflação desde 2020. Mesmo que os preços se estabilizem, permanecem em um patamar elevado. A carne, por exemplo, deve ter uma alta menor neste ano, em torno de 6%, mas já subiu 20% no ano passado", explica Cunha.


O impacto dos aumentos é ainda mais perceptível devido à frequência de eventos climáticos extremos, como El Niño e La Niña, que vêm ocorrendo em intervalos menores. Em 2023, a alta do dólar também contribuiu para encarecer itens importados e reduzir a oferta de produtos exportados no mercado interno, como carne e café. No acumulado de 12 meses até janeiro deste ano, o café registrou um aumento de 50,35%, enquanto as carnes subiram 20%.


Desafios e Soluções


O governo tem buscado alternativas para minimizar os impactos da inflação dos alimentos, como o retorno dos estoques reguladores para produtos como milho. Além disso, a pesquisa agrícola vem desenvolvendo soluções para tornar a produção mais resistente às mudanças climáticas. A Embrapa, em parceria com a Unicamp, trabalha na criação de variedades de milho geneticamente modificadas para suportar seca, calor e alagamentos, um avanço essencial para lidar com os desafios da agricultura diante das variações climáticas cada vez mais frequentes.


O cenário demonstra que a alimentação continuará sendo um dos principais fatores de pressão sobre o orçamento familiar nos próximos anos. Para as famílias de menor renda, que já destinam uma parcela significativa dos seus ganhos a esse grupo de produtos, qualquer reajuste nos preços continuará sendo sentido de forma intensa, reforçando a necessidade de estratégias de adaptação e políticas públicas que garantam maior estabilidade no acesso à alimentação.


Por Marcelo Damasceno


Fonte: Minuto Bahia 24H


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