Trump e Musk: O Laboratório Neoliberal de Desmonte do Estado
- Marcelo Damasceno
- 27 de fev.
- 3 min de leitura

O que Donald Trump e Elon Musk estão fazendo nos Estados Unidos vai além de um simples ataque ao serviço público. Eles estão construindo um modelo, um experimento que poderá ser exportado para outras nações pela direita internacional. O que parece ser uma política isolada é, na verdade, um ensaio de grande escala para um novo tipo de desmonte estatal: um espetáculo midiático onde a destruição do setor público não acontece nos bastidores, mas diante das câmeras, com aplausos e memes.
O Espetáculo da Destruição do Estado
Ao contrário da direita tradicional, que apenas reduzia gastos e privatizava setores estratégicos, Trump e Musk adotam uma abordagem performática. O objetivo não é apenas enxugar a máquina pública, mas expor e humilhar seus trabalhadores, reforçando a narrativa de que o Estado é ineficiente e precisa ser desmontado.
No centro dessa estratégia está o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), comandado por Musk sob a administração Trump. Financiado secretamente com quase 40 milhões de dólares, o DOGE opera como uma agência blindada de leis de transparência e tem uma missão clara: converter o desmonte do Estado em um espetáculo de eficiência privada. O método é brutal: cortes massivos são celebrados, servidores públicos são ridicularizados, e a precarização do funcionalismo vira um show para engajar a opinião pública.
A Doutrina do Choque Aplicada ao Estado
O conceito não é novo. Naomi Klein, em "Doutrina do Choque", já alertava sobre como crises são exploradas para impor reformas drásticas. A novidade aqui é que Trump e Musk não esperaram um desastre natural ou uma recessão para agir – eles fabricaram sua própria crise, usando o funcionalismo público como bode expiatório. Quanto mais o governo parece disfuncional, mais justificativas surgem para privatizar seus serviços, aprofundando o ciclo de destruição.
O geógrafo David Harvey já demonstrava que o neoliberalismo não é apenas uma política econômica, mas um projeto de poder, que redefine as relações entre governantes e governados. A estratégia é simples: esvaziar o Estado e, em seguida, usá-lo como prova de que ele não funciona, justificando ainda mais cortes e privatizações.
A Guerra Cultural Contra o Estado
Mais do que uma disputa econômica, essa é uma batalha no campo cultural. Antonio Gramsci chamaria isso de "guerra de posição": a destruição do Estado não ocorre apenas nos números do orçamento, mas na construção de um imaginário coletivo. Se as pessoas acreditam que tudo que é público é ineficiente e corrupto, então sua destruição se torna um consenso. E o consenso é a arma mais poderosa do neoliberalismo.
A estratégia depende de dois fatores: inércia e aplauso. Se não há resistência, o projeto avança sem oposição. Se há aplauso, ele se espalha e se transforma em demanda popular. O objetivo final não é apenas reduzir o tamanho do Estado, mas eliminar qualquer alternativa ao domínio do capital privado.
O Estado Não É Neutro – Mas É Disputável
É ingênuo tratar o Estado como um ente puro ou benevolente. Ele sempre foi um espaço de disputa – pode ser ferramenta de opressão e burocracia, mas também a última trincheira contra um mercado que não reconhece nada além de seus próprios interesses. O problema nunca foi seu tamanho, mas quem o controla e a serviço de quais interesses ele opera.
Aceitar a falácia de que a destruição do público tornará tudo mais eficiente é entregar o poder àqueles que já o monopolizam. No fim, a destruição do Estado não levará a uma sociedade mais funcional – apenas consolidará o domínio absoluto do setor privado sobre a vida pública.
Por Marcelo Damasceno
Comments